GABRIEL HAESBAERT
Há oito anos, a Avenida Liberdade não vê as cores e a alegria das Escolas de Samba de Santa Maria. Em novembro do ano passado, a ‘Noite Cultural”, que contou com um pequeno desfile de quatro escolas na Gare, reacendeu a chama e também a pergunta: o que falta para o bloco da Cidade Cultura voltar, de vez, para a rua? O fato é que, mesmo sem carnaval de rua desde 2016, as escolas de samba se mantêm de pé, desenvolvendo ações sociais e eventos.Conforme o presidente da Associação Aliança Pelo Samba, Leonardo Ribeiro, atualmente, sete escolas são filiadas à instituição. Apesar de todas estarem regularizadas e prontas para trabalhar, falta estruturação para algumas. Zona Norte, Arco-Íris e Camobi não têm quadras, por exemplo.— A gente traz a comunidade para dentro da escola. Isso para nós é o importante. Não estávamos fazendo a cereja do bolo, que é o evento na rua, mas todas as escolas estão se organizando e tentando movimentar suas quadras para poder chegar lá e não ficar dependente do poder público. Ele é necessário e tem que ser o nosso parceiro, mas ele não pode vir na linha de frente, temos que estar juntos. A gente trabalha muito o ano todo, mas temos um grande defeito: não mostrar esse trabalho para a população — explica Leonardo.
Foto: Gabriel Haesbaert (Diário/ Arquivo)
Conforme Paulo Roberto Silveira, presidente da Barão do Itararé, a situação precária em que se encontram as Escolas de Samba de Santa Maria têm sido, há muito tempo, um impeditivo para ações mais consistentes e permanentes:— Deve-se considerar que, em qualquer lugar, a razão de existir das escolas de samba é o desfile de rua. É a possibilidade de ver a escola fazendo um carnaval de qualidade que mobiliza as comunidades, além da paixão dos componentes. Sem o desfile, as pessoas tendem a se afastar da escola.Silveira acrescenta que, mesmo com os desfiles carnavalescos, sabe-se que muitos se aproximam apenas na reta final quando já percebem a preparação da escola:— Projetos sociais devem ser desenvolvidos, mas precisamos de parcerias, onde o poder público tem papel relevante, mas não é o único parceiro.
No dia 26 de novembro de 2022, mais de três mil pessoas se uniram na Gare para a “Noite Cultural”. Quatro escolas de samba desfilaram: Unidos de Camobi, Arco Íris, Mocidade Independente das Dores e Vila Brasil. Foto: Eduardo Ramos (Diário)
Para Paulo Quadrado, da Império da Zona Norte, a ausência do Carnaval de rua prejudica a todos:– Infelizmente, essa geração de agora não sabe o que que é um desfile na Avenida Liberdade. E o nosso estatuto já é ultrapassado. Então tem que fazer algumas modificações até para engrandecer mais a entidade, né? Tenho certeza absoluta que o carnaval de Santa Maria vai retornar e vai ser logo. Acredito que 2024 vai ser o ano.No dia 26 de novembro de 2022, mais de três mil pessoas se uniram na Gare para a “Noite Cultural”. Organizada pela associação Aliança Pelo Samba com apoio da prefeitura.– Que a gente consiga assim mostrar para a nossa população que o carnaval não é algo que joga dinheiro fora. A gente gera muita renda. Essa cadeia produtiva se quebrou em Santa Maria e nós precisamos, sim, retomar ela – aponta Ribeiro.Para o futuro, está havendo a busca de recursos. Conforme Leonardo Ribeiro, existe um desejo de que o Carnaval volte a ocorrer na Avenida Liberdade. Para isso, segundo ele, seria necessário mais de R$ 1 milhão, para estrutura, segurança, escolas e desenvolvimento. Em fevereiro, o prefeito Jorge Pozzobom falou sobre a atenção que o poder público, por meio da Secretaria de Cultura, tem dado para as escolas de samba.A Secretaria de Cultura foi contatada pela Revista MIX sobre o assunto, mas não se manifestou até o fechamento da edição.
AS ESCOLAS DE SAMBA
VILA BRASIL
A escola foi fundada em 15 de novembro de 1959, sendo a mais antiga de Santa Maria. Atualmente, a vermelho e branco desenvolve projetos sociais, como cursos de percussão, garçom, recepcionista, formatação e apresentação de currículo. Promove eventos como a Feijoada da Vila, com mesa de pagode, risoto, Natal Vermelho e Branco, com entregas de ceias de natal à comunidade, Identidade Preta, além de ter promovido o primeiro Seminário Estadual Integrado Carnaval e Formação Acadêmica: economia criativa, turismo e cultura como base nos festejos carnavalescos, com a presença de Moacir Barreto, vice-presidente da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, do Rio de Janeiro.
ARCO-ÍRIS
Fundada em 5 de abril de 1999, a Sociedade Recreativa Cultural Beneficente Arco Íris tem como cores predominante as sete cores do arco íris. Era uma escola infantil que estava somente no papel. Como não havia meios de desfilar devido à ausência de uma outra escola infantil, ela foi transformada para escola de samba adulta. Entre as atividades atuais, promove lives com doação de alimentos, agendas com shows, apresentações beneficentes no Lar das Vovozinhas, Centro de Apoio à Criança com Câncer e participou do pré-carnaval no Parque Oásis, em Itaara.
BARÃO DO ITARARÉ
Fundada em 15 de fevereiro de 1985, é uma escola de samba situada na região leste-ferroviária da cidade de Santa Maria, no Bairro Itararé. Tem como cores de seu pavilhão o amarelo, o verde, o azul e o branco. Inserida em uma comunidade caracterizada pela vulnerabilidade social, qualificou sua gestão a partir de 2005, ampliando seu leque de simpatizantes e instituindo-se como uma escola inovadora. Durante o período sem desfiles, a escola continuou agindo, mantendo promoções e ensaiando sua bateria. No entanto, a chegada da pandemia restringiu as possibilidades de ação, gerando um distanciamento da comunidade e uma situação de difícil retomada. Acentuaram-se as precariedades da quadra e acumularam-se dívidas. A incerteza quanto a realização do Carnaval de rua inviabilizou projetos e busca de apoiadores. Hoje o foco da escola é recuperar a quadra e se reorganizar administrativamente.
UNIDOS DO ITAIMBÉ
Foi fundada em 22 de fevereiro de 1975. A verde e rosa tem sua quadra localizada na Rua Silva Jardim, ao lado do colégio Aracy Barreto Sacchis. Mesmo sem Carnaval de rua, as atividades da escola seguem durante todo o ano, por meio de integração com outras escolas de samba e projeto social de percussão. A atual rainha da escola, Júlia Almeida, também realiza um projeto que ensina meninas a dançarem. Todos os domingos, ocorre o evento Samba na Laje. Também promove eventos de integração social com a Vila Brasil.
MOCIDADE INDEPENDENTE DAS DORES
Com as cores azul, verde, amarelo e branco, a Mocidade foi fundada no ano de 1987 e desde então vem se desenvolvendo como um espaço cultural de resistência negra e periférica. Desde 1996, possui uma quadra própria na Alameda Santiago, próximo ao Hemocentro Regional. A escola fez uma parceria com o Bloco das Poderosas em 2022 e promoveu festas para arrecadar fundos para a escola e realizar melhorias no espaço físico. A intenção em 2022 foi proporcionar um Carnaval diferente, alternativo às festas dos clubes. A Mocidade chegou a ter mil pessoas no barracão da escola na época. A escola está passando por adaptações e reformas para melhorias. Por meio das festas, surgiu uma união para que outras escolas possam voltar a ativa e ter Carnaval em seus próprios barracões.
IMPÉRIO ZONA NORTE
Fundada em 25 de fevereiro de 2005, a escola tem as cores azul, vermelho e branco e o símbolo do leão. Nos últimos anos, tem participado de integrações sociais com as escolas co-irmãs. Havia a ideia de realizar atividades no bairro, mas ainda não foi possível. Vai começar a ser reestruturada administrativamente para que colabore com o retorno do Carnaval de rua de Santa Maria. A escola luta por um espaço próprio para poder colocar projetos sociais em funcionamento, já que realiza as suas ações no Guarany-Atlântico, cedido pela prefeitura. Há uma ideia de utilizar o mesmo espaço da Associação Esportiva Kennedy.
UNIDOS DE CAMOBI
Uma das mais novas no Carnaval na cidade, a agremiação foi fundada em 17 de março de 2005. Tem as cores amarelo, verde e vermelho e a figura do índio como símbolo. A escola está em reconstrução, com dificuldades. Para o evento na Gare em novembro, reeditou o tema do carnaval de 2012, “Fênix e o Templo do Sol”, o que representa também o momento de renascimento da escola.
Cruz Alta: 60 anos de brilho e alegria
Brilho, luxo e muita alegria são os destaques do Carnaval fora de época de Cruz Alta, que ocorre no Sambódromo Mestre Vidal, neste final de semana. A manifestação cultural tem mais de 60 anos de história e foi conquistando espaço, reconhecimento e valorização. Atualmente, considerada um dos três grandes carnavais do Estado.Comunidade, escolas de samba e poder público se unem em prol da realização do evento. A edição de 2023, tem a organização da Prefeitura Municipal, Liga das Escolas de Samba de Cruz Alta (Lesca) e CR Eventos. Conforme o presidente da Lesca, João Balbino Campos, a prefeitura apoia financeiramente as escolas e a Liga, além de fornecer a infraestrutura para o funcionamento do local.— Em Cruz Alta, nós temos uma força muito grande do poder público municipal. Sem ele, não seria possível realizar o Carnaval — afirma Campos, em entrevista à rádio CDN 93.5 FM.
Cada uma das quatros escolas de Cruz Alta – Imperatriz da Zona Norte, Gaviões da Ferrô, Unidos de São José e Unidos do Beco – recebeu R$ 75 mil do poder público. O restantes dos recursos são buscados com promoções desenvolvidas durante todo o ano. Fotos: Divulgação
Segundo o representante, cada escola tem, em média, custo de R$ 200 mil para poder desfilar e fazer bonito na avenida. A prefeitura disponibiliza R$ 75 mil para cada uma das quatro escolas. Também repassa R$ 150 mil para a Lesca, que são utilizados para organização com jurados, convidados, imprensa, hotelaria e transporte. Totaliza, assim, um aporte de R$ 450 mil, além de recursos extras para colocar o Parque de Exposições – local onde fica o Sambódromo –, em funcionamento com tudo o que é necessário (pintura da pista, banheiros, energia elétrica e outros).Para custear o restante do valor, as escolas buscam recursos através de emendas parlamentares, contam com patrocinadores e simpatizantes. Trabalham durante o ano todo, promovendo festas e ações para angariar o valor necessário.
A coordenadora de Cultura, Turismo, Artes e Eventos do município, Shana Lima dos Reis, destaca a importância da o evento em nível social, cultural, turístico e econômico, movimentando a cadeia produtiva como um todo. O local, que espera receber de 12 a 15 mil pessoas, de diversas partes do Estado e da América Latina, torna-se a “Cidade do Samba”. Empreendedores estarão comercializando seus produtos, além da movimentação no comércio local da cidade, setor gastronômico e hotelaria, que fica lotada.— Há muito diálogo com as escolas – destaca Shana, como um dos segredos para realizar o evento de grande porte.Conforme a coordenadora, a Administração Municipal sabe das dificuldades das escolas e busca além do fomento financeiro, estar ao lado das agremiações, oferecendo o melhor possível. Para ela, a expressão da cultura popular através do Carnaval é algo incomparável.— Aqui em Cruz Alta começou há muito tempo. Hoje a gente tem a felicidade de ter essa linda festa, que na verdade é onde culmina todo um trabalho das nossas escolas, das nossas comunidades e a nossa alegria de estar vendo o poder público empenhado, investindo nessa cultura popular — afirma.
O público tem diversas opções para prestigiar a folia. Mesas, frisas, camarotes corporativos, além do setor popular com ingressos custando R$ 10. Parte do setor pipoca e as arquibancadas são gratuitas.— Este ano não abrimos mão da arquibancada gratuita para que a comunidade mais carente também tenha acesso. A festa é linda, encanta e enche os olhos de quem está lá no Sambódromo Mestre Vidal — ressalta a coordenadora municipal.Além das estrelas locais e da região, figuras famosas nos carnavais do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Uruguaiana participam do desfile.
CARNAVAL DE CRUZ ALTA
Sábado, 18 de março
19h30min – abertura dos portões
21h – abertura oficial
22h30min – desfila Imperatriz da Zona Norte
0h – desfila Gaviões da Ferrô
1h30min – desfila Unidos de São José
3h – desfila Unidos do Beco
Domingo, 19 de março
Apuração dos resultados